Advérbios, Adjetivos e outras questões de classe
Por que o Advérbio é tão legal e não é educado confundir classes de palavras?
A pior coisa que você pode fazer
é confundir o Adjetivo com o Advérbio. Não pelo Adjetivo, ele não se importa,
acho até que ficaria lisonjeado. Falo pelo Advérbio, ele sim se ofende quando
alunos distraidamente o confundem com uma simples característica ao responderem
timidamente o professor em sala de aula.
“Não me leve a mal”, o Advérbio
diria, “respeito o Adjetivo, conheço seu trabalho e até já lhe dei uma mãozinha
vez ou outra, mas convenhamos que somos de classes diferentes”.
O Adjetivo é inseguro,
dependente. Podem reparar: se você vê o adjetivo em algum lugar, garanto que o
Substantivo estará também. Já tentou chamar o Adjetivo para um rolê? A primeira
coisa que ele vai querer saber é se o Substantivo vai também; a segunda, é como
o amigo vai vestido para ele se ir igual, o que faz com que, mesmo que estejam
distantes, dá para ver que há uma ligação entre eles. Já ouvi histórias de
situações em que o Adjetivo resolveu sair sem o companheiro, mas ficou o tempo
todo ao lado do Artigo fingindo na maior cara de pau que ele era o Substantivo.
Alguns diriam que o Adjetivo não
tem nem personalidade própria. Tente perguntar sua opinião sobre algum assunto
e ele primeiro vai ver o que pensa o amigo só para concordar com ele. Dúvida?
Faça um teste: peça para o Substantivo mudar de opinião e, não importa onde o
Adjetivo esteja, ele mudará também. Porém, justiça seja feita, já o vimos
tentar se desvencilhar desse costume uma vez ou outra, só que agora o estrago
está feito: ninguém mais leva a sério quando ele discorda do Substantivo.
Para piorar sua situação, o
Adjetivo ainda é visto como fofoqueiro. Tem algo a dizer sobre tudo que passa
pela frente: pessoas, animais, objetos, sentimentos... a lista é extensa. Fale
qualquer nome para ele e aguarde o julgamento. O Substantivo que o diga, nunca
consegue ter uma conversa direta e objetiva quando o amigo está por perto. Acho
que é próprio dele, não pode evitar, como se fosse um instinto primitivo,
simples assim.
Não julguemos, então, o Advérbio
por não gostar da comparação. Por um motivo bobo de tradição calhou de seus
nomes serem levemente parecidos, mas essa confusão só se justifica para quem
não os conhece de verdade.
Para começar, é muito menos
grudento, o que já faz muita diferença. Você não o vê seguindo o Verbo pelo
rolê, desesperado para que todos saibam que são amigos, tanto é que muitos nem
mesmo notam, em um primeiro momento, que essa amizade existe, pois o Advérbio,
facilmente, se sente confortável em qualquer lugar. Tente convencer o Adjetivo a
fazer o mesmo, ele fica tão deslocado que nem dá para dizer o que ele está
fazendo ali.
Além disso, o Advérbio sabe o
valor que tem e não fica por aí simplesmente concordando com os outros. Alguns até
podem achar isso um pouco arrogante, mas, particularmente, acho bem honesto da
parte dele. Não há motivo para ficar repetindo o que outros já disseram, ele
nunca usou isso para se provar e, consequentemente, nunca exigiram isso dele.
Finalmente, o Advérbio não julga,
não é um fofoqueiro, e é isso que as pessoas que o confundem com o Adjetivo
parecem não entender. Quando ele diz algo, ele realmente tem algo a
acrescentar. O Verbo, que quase sempre é o centro das atenções, sente-se
modificado pela presença do Advérbio, que, por vezes, também dá uma força para
o Adjetivo. Acrescento que, ainda que o chamem de invariável, não o podem
acusar de ser inflexível, tendo em vista as vezes em que já foi surpreendido
modificando a si mesmo.
Queria encerrar dizendo que em
nenhum momento foi minha intenção ofender o Adjetivo. Reconheço seu valor, sei
que ninguém mais faria tão bem o trabalho que ele faz e me compadeço com as
dificuldades que ele passa, contudo, acho importante separarmos bem as coisas e
darmos a cada um seu devido valor.
“Mas o Verbo é quem é O cara”,
alguns dirão, “por que você não fala mais sobre ele?”.
Longe de mim parecer que não lhe
dou o devido valor, mas todos sabem que onde há verbo, há oração, e religião
não se discute.
Muito bom, Luana. Mas você poderia ter dito que o adjetivo é enxerido e às vezes se trasveste de advérbio. Mas você discorreu diferente e falou calma. Hehe
ResponderExcluirE nem sempre ele copia a vestimenta do substantivo né?! Mas o espírito do adjetivo é esse mesmo ;)
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